Todos nós já ouvimos falar que dos malefícios da inteligência artificial para o meio ambiente. Afinal, os data centers que hospedam esses chatbots consomem meio litro de água limpa para cada 10 a 50 solicitações.
Soma-se a isso o gasto de energia tanto no treinamento, quanto no uso efetivo desses modelos de linguagem para a geração de texto, imagens e, mais recentemente, vídeos.
Segundo a Greenly, uma plataforma voltada a empresas que desejam medir e reduzir as emissões de CO₂, uma única empresa pode emitir, em um único mês, cerca de 638 toneladas de CO₂ com a única tarefa de responder e-mails.
Com base nesses cálculos, para que o GPT-4 responda a 1 milhão de e-mails por mês, as emissões somente da fase de uso somam 42.900 kgCO₂e. No entanto, ao incluir as fases de treinamento e uso, amortizadas em um único mês, o impacto total sobe para 637.771 kgCO₂e, o que equivale a aproximadamente 360 viagens de ida e volta entre Paris e Nova York em apenas um mês (mais de 4.300 por ano!).
Diante desses números, fica mais fácil entender por que as metas de neutralidade de carbono anunciadas por gigantes como Apple, Google, Microsoft, Meta e Amazon podem estar desatualizadas diante do rápido avanço da IA.

Segundo o estudo do NewClimate Institute e pela Carbon Market Watch, as promessas que preveem alcançar a neutralidade entre 2030 e 2040 carecem de credibilidade diante do consumo crescente de energia impulsionado por sistemas como o ChatGPT.
O que é neutralidade de carbono?
A neutralidade de carbono significa que as emissões de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO₂), são compensadas por ações que reduzem ou removem a mesma quantidade desses gases da atmosfera.
Essa iniciativa, também é conhecida como carbono neutro ou net zero, faz parte do vocabulário de muitas empresas, principalmente as grandes. O objetivo é minimizar o impacto ambiental das atividades humanas, alcançando um equilíbrio entre emissões e absorção de carbono no meio ambiente.

Existem diferentes formas de fazer isso, de acordo com a indústria em que a empresa está inserida. Mas a principal estratégia é reduzir as emissões (como, por exemplo, otimizar o uso de energia na cadeia de produção) e compensar as emissões (como, por exemplo, em reflorestamento ou até na compra de créditos de carbono).
Leia também:
- Especialistas apontam que os compromissos climáticos dessas empresas usam metodologias ultrapassadas e não refletem o aumento recente no consumo energético causado por tecnologias de IA.
- A principal fonte de emissão de gases do efeito estufa no setor vem da eletricidade usada em data centers – cuja demanda disparou com o crescimento da IA.
- Das cinco empresas avaliadas, apenas a Apple tem como meta usar 100% de energia renovável em toda sua cadeia de produção até 2030. As demais ainda não possuem metas claras.
O impacto ambiental das big techs
De acordo com o levantamento, empresas como Microsoft, Meta e Amazon receberam classificação “medíocre” em relação à integridade de suas estratégias climáticas. Já a Apple e o Google ficaram com avaliação “moderada”.
O motivo dessa classificação baixa é a diferença entre os objetivos declarados e o aumento real de emissões. O caso do Google, por exemplo, mostra que suas emissões de CO₂ quase dobraram entre 2019 e 2023, mesmo com investimentos em energia renovável.

Segundo o estudo, a Google, a Apple e a Meta se comprometeram a alcançar a neutralidade de carbono em 2030. Enquanto isso, a Amazon espera alcançar esse marco em 2040, e a Microsoft quer ter um saldo de carbono negativo em cinco anos.
Investimento em energia limpa não é o suficiente
A expansão da IA é um fator-chave nessa equação. Chatbots e modelos de linguagem consomem uma quantidade significativa de energia, alimentada por grandes centros de dados. Apesar de investimentos em energia limpa, o relatório aponta que esses esforços não são suficientes para compensar a crescente demanda elétrica.
Outro ponto crítico é que muitas empresas não contabilizam a pegada de carbono gerada por fornecedores terceirizados de infraestrutura – responsáveis por cerca de metade da capacidade de processamento em nuvem – nem pela cadeia produtiva de seus dispositivos, que representa mais de um terço das emissões totais do setor.